
Naquela mesma época, tentei compor letras de músicas; acabou não dando certo, mas me ajudou a querer manter minha produtividade. Só alguns anos depois, quando me envolvi de fato com a música, é que consegui compor coisas que chamaria de letras de música. Foi aí que me incursei no mundo de escrever poemas.
Fazer poesia não era produtivo: em primeiro lugar, porque eu não tinha lido o bastante e não conseguia fazer boa poesia (nem pros meus próprios padrões da época); e, segundo, porque meus leitores tinham lido ainda menos que eu. Isso significava que eu não tinha sensibilidade suficiente para criar grandes imagens e metáforas e, menos ainda, meus leitores tinham para identificá-las e decodificá-las. Não cabe buscar o culpado, mas o que acontece é que não só eu, mas meu grupo social – acho que dá para generalizar como sendo o Brasil todo – não tem bagagem cultural poética.
Entretanto, (como vários outros do meu grupo social que liam) eu lia prosa. Claro: eu não tinha as capacidades de interpretação metafóricas complexas e habilidades exigidas pela poética presentes também na prosa – mas eu lia. E gostava.
E nesta mesma época, com 16 anos, conheci o “Contos da Meia-Noite”, da TV Cultura. Eu sentava em frente à televisão e viajava com o que eles diziam. Muitas vezes, minha piração ia além do que os atores falavam; eu viajava sozinho na minha imaginação. E eu via isso como algo bom; independentemente de eu ter entendido a mensagem subjacente do texto – ou, às vezes, nem mesmo a mensagem explícita –, a experiência com o texto já era completa.
Comecei, então, a fazer meus textos me baseando nesses princípios: eu faria minhas historinhas, construiria minhas metáforas, passaria minha mensagem e tentaria fazer meu leitor pirar do jeito que eu pirava nos textos da TV. O objetivo era fazer que meu leitor preenchesse qualquer um desses requisitos; mesmo sem ele entender a metáfora ou a crítica social ou a mensagem inconsciente, ele poderia se satisfazer com uma história com começo, meio e fim.
Só agora, depois de ter entrado na faculdade, consigo explicar quais eram essas minhas concepções de antes, já que muitas dessas premissas foram desconstruídas e reconstruídas. Mas essa é uma outra história, e terá de ser contada em outra ocasião.
3 comentários:
então, peço-te a gentileza de voltar aqui mais vezes (:
… parece as pessoas têm medo de comentar. as que não têm desistem pouco depois.
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