o sim e o não, o alfa e o ômega, o homem e a mulher, a langue e a parole, o yin e o yang.

22 setembro 2010

Mein Kampf

Não me lembro de como era minha produção escrita antes da minha alfabetização, nem nos dos dois primeiros anos de escola. Lembro que no meu terceiro ano de alfabetizado, minha professora mantinha um caderno de produção de texto, em que eu tive meus primeiros contatos com minha própria produção literária. Não sei se é possível creditar meu interesse nessa área àquela professora, mas com certeza ela foi responsável por ter despertado e, de certo modo, mantido esse meu gosto.

Naquela mesma época, tentei compor letras de músicas; acabou não dando certo, mas me ajudou a querer manter minha produtividade. Só alguns anos depois, quando me envolvi de fato com a música, é que consegui compor coisas que chamaria de letras de música. Foi aí que me incursei no mundo de escrever poemas.

Fazer poesia não era produtivo: em primeiro lugar, porque eu não tinha lido o bastante e não conseguia fazer boa poesia (nem pros meus próprios padrões da época); e, segundo, porque meus leitores tinham lido ainda menos que eu. Isso significava que eu não tinha sensibilidade suficiente para criar grandes imagens e metáforas e, menos ainda, meus leitores tinham para identificá-las e decodificá-las. Não cabe buscar o culpado, mas o que acontece é que não só eu, mas meu grupo social – acho que dá para generalizar como sendo o Brasil todo – não tem bagagem cultural poética.

Entretanto, (como vários outros do meu grupo social que liam) eu lia prosa. Claro: eu não tinha as capacidades de interpretação metafóricas complexas e habilidades exigidas pela poética presente
s também na prosa – mas eu lia. E gostava.

E nesta mesma época, com 16 anos, conheci o “Contos da Meia-Noite”, da TV Cultura. Eu sentava em frente à televisão e viajava com o que eles diziam. Muitas vezes, minha piração ia além do que os atores falavam; eu viajava sozinho na minha imaginação. E eu via isso como algo bom; independentemente de eu ter entendido a mensagem subjacente do texto – ou, às vezes, nem mesmo a mensagem explícita –, a experiência com o texto já era completa.

Comecei, então, a fazer meus textos me baseando nesses princípios: eu faria minhas historinhas, construiria minhas metáforas, passaria minha mensagem e tentaria fazer meu leitor pirar do jeito que eu pirava nos textos da TV. O objetivo era fazer que meu leitor preenchesse qualquer um desses requisitos; mesmo sem ele entender a metáfora ou a crítica social ou a mensagem inconsciente, ele poderia se satisfazer com uma história com começo, meio e fim.

Só agora, depois de ter entrado na faculdade, consigo explicar quais eram essas minhas concepções de antes, já que muitas dessas premissas foram desconstruídas e reconstruídas. Mas essa é uma outra história, e terá de ser contada em outra ocasião.

3 comentários:

Føx Strife disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
willian disse...

então, peço-te a gentileza de voltar aqui mais vezes (:

willian disse...

… parece as pessoas têm medo de comentar. as que não têm desistem pouco depois.