o sim e o não, o alfa e o ômega, o homem e a mulher, a langue e a parole, o yin e o yang.

20 março 2016

E o Lula, ein?

Nos últimos dias, milhões de brasileiros foram às ruas mostrar sua indignação com a situação política do nosso país. As análises sempre nos apontam uma polarização política: como se nessa discussão existissem apenas dois lados, como se só existisse um muro pra ficar em cima. A mídia faz acreditar que ou se apoia o impeachment (ou o golpe) ou se defende a democracia (ou o governo corrupto do pt); sendo que na verdade o buraco é muito mais embaixo e não só dois lados nesse debate.

Numa análise bem superficial, dá pra ver pelo menos dois antagonismos: de um lado os que defendem a saída de Dilma da presidência, uma vez que com os casos denunciados de corrupção a sua permanência não se sustenta; e, do outro lado desse cabo de guerra, estão os que defendem que as acusações é que não se sustentam e que ainda não há provas concretas contra ela e que ela precisa antes ser condenada para depois ser impedida. Numa outra polarização, estão os que acusam a mídia e o judiciário de serem parciais e tentarem manipular a opinião pública a fim de tirar do governo o partido que ganhou as eleições; e, nessa disputa, os contrários apontam que a justiça está apenas fazendo o seu trabalho (“agora os corruptos do pt, depois todos os outros”).

Me parece que essas polarizações só empobrecem o debate; me parece muito ingênuo acreditar em soluções tão simples pra um momento tão delicado como o que estamos vivendo. Mas, mesmo assim, na minha superficialidade e assumida ingenuidade, levanto alguns questionamentos.

As principais acusações contra o governo vieram da Operação Lava Jato (ou Lava-Jato ou Lavajato?); a principal delas vieram de um senador (ex-)petista, que, depois de ser pego, acusou todo mundo do governo no seu acordo de delação premiada. Eu questiono se não poderia existir interesses do senador em fazer essas acusações, sem poder prová-las, apenas para denigrir o governo. Ou, pior: e se lhe pagaram propina para que ele fizesse essas acusações a fim de beneficiar alguém – afinal, ele já foi preso por corrupção, não é?

E muito foi discutido sobre a quantidade de pessoas que foram às ruas. Os organizadores do protesto verde-amarelo e a mídia disseram que esse foi maior; os organizadores das manifestações vermelhas disseram que seu protesto foi mais representativo. Cada um dos dois grupos dizendo representar a vontade do povo. Concordo com o argumento de que, se fosse pra disputar em número de pessoas, deveria prevalecer o resultado das urnas em 2014.

Mas, por outro lado, quem deveria ser responsável em destituir um presidente (ou qualquer cargo eletivo) deveria ser os responsáveis por elegê-lo; assim, caberia ao povo decidir sua saída, e não o legislativo. Ou seja, o passo final do rito do impeachment deveria ser um referendo popular convocado para destituir ou não a pessoa eleita. Só que, antes, a pessoa precisaria, com direito a defesa, ser condenada judicialmente. Porque não faz sentido destituir uma pessoa eleita porque ela não agrada quem não votou nela.

Só que o debate não se encerra nesta questão, tem muita lenha pra ser jogada nessa fogueira ainda.

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