o sim e o não, o alfa e o ômega, o homem e a mulher, a langue e a parole, o yin e o yang.

05 abril 2016

o Facebook e a nossa visão de mundo

Não diria que é da natureza humana; diria, talvez, que é da natureza das sociedades humanas ou, pelo menos, das sociedades ditas modernas. A gente tende a procurar informações que complementem aquilo que a gente já pensa; a gente sempre tenta andar com pessoas que concordam com a gente. O Facebook sabe disso e nos alimenta só com notícias que a gente quer ouvir – ou, no mínimo, aquilo que o Facebook quer que a gente queira ouvir.

Estudos apontam que 96% dos jovens brasileiros acessam a internet todos os dias; e que, desses, cerca de 80% acessam as famigeradas redes sociais. Isso quer dizer que a maior parte da juventude brasileira se comunica pelo feice ou pelo zapzap. O que, por um lado, é ótimo, já que cada vez mais a galera está se informando por meios alternativos; e, por outro lado, é péssimo, já que cada vez mais a galera está se informando por meios alternativos.

Por razões que vale a pena discutir, as pessoas, que até bem pouco tempo enchiam a boca pra falar que não gostavam de política, hoje estão discutindo política. As discussões ainda estão bastante superficiais e enviesadas, mas pelo menos elas acontecem. O problema é a falta de criticidade das pessoas; as pessoas acreditam em tudo que o william boner diz e em tudo que os memes dizem.

(Paweł Kuczyński)
E, graças a essa mesma internet, um outro grupo de pessoas se interessou por política e teve a paciência de pesquisar e ir atrás e tentar entender como funcionam as coisas e comparou visões contraditórias e procurou formular sua própria opinião. 

Só que pra essa geração o Facebook ainda é o principal meio de comunicação; ou, no mínimo, um ponto de partida. As pessoas podem até curtir páginas de conteúdo bastante variado e ser amigo de gente de todos os naipes; mas o Facebook, com uma lógica que só ele entende, decide o que aparece no seu feed de notícias. Assim, os pontos de vista que a gente vê no feed são cada vez mais parecidos com os nossos.

E, pra essa geração que ainda está na adolescência da internet, isso só pode ser ruim. Em tempos de extremismos e gente inflamada, ouvir apenas aquilo que nos agrada nos leva a extremizar ainda mais nossas posições. Quando eu apenas ouço a respeito de A, o B vai se tornando cada vez mais caricato e irreal; o A passa a ser a verdade e o B, por ser o inimigo, vai tomando as feições de tudo aquilo que a gente tem medo ou não quer que aconteça.

Disso é fácil chegar na conclusão de que petralhas adoram o demônio e que coxinhas querem a volta da escravidão. 

Embora você provavelmente só tenha chegado nesse texto justamente devido ao Facebook, o ideal seria que a gente saísse de lá e se comunicasse por meios mais democráticos. Mas, pensando no uso que a gente tem feito dele – ler as manchetes, curtir as fotos e ir pra próxima postagem –, acho que não nos livramos dele tão cedo.

Um comentário:

Alex disse...

Cara, acabei de assistir ao programa café filosófico com Leandro Karnal. Ele falava sobre Shakespeare, especificamente sobre Hamlet e de como nossa bipolaridade é risível. Nós não queremos ver os outros, só queremos ver a nós mesmos. O contraditório disso tudo é que quantos mais nos enxergamos e percebemos a nossa mediocridade, menos queremos nos ver, então criamos ilusões de nós mesmos pra esconder isso tudo.
Em suma, estamos fodidos!