Mas
a questão decisiva é qual sistema estamos querendo derrubar – ou,
ainda, que sistema queremos colocar no lugar? Na França Napoleônica,
ser de esquerda era se opor à monarquia; no socialismo do século
XX, estar à esquerda era ser contra o capitalismo. Só que já nessa
época já se discutia o que ia ser colocado no lugar; ou, antes
disso, como faremos pra derrubar o grande capital.
Meus
amigos de facebook são, em sua maioria, de esquerda; mas isso não
quer dizer que todos têm a mesma concepção de esquerda; nem que
eles concordem na maioria de seus pontos. Pode-se dizer que todos têm
como ponto comum que o lucro não deveria estar sobre o interesse
coletivo. Mas acho difícil dizer que todos eles são
anticapitalistas – assim, com todas as letras.
Mesmo
aqueles que são contra o Capital – aqueles que leram Marx e tal…
mesmo eles não tem em comum o modus
operandi da
derrubada de poder. Alguns acreditam na ruptura, na revolta armada;
outros acreditam numa transição, longa e dolorida, no
dia a dia, até
que o sistema
se esvaia. E, mesmo assim, depois que o capitalismo estiver
derrubado, não há um consenso sobre o que deve existir
no lugar; socialismo, comunismo, anarquia, anarco-socialismo,
anarco-comunismo, anarco-cristianismo, anarco-capitalismo (?), et cetera.
E,
além disso, se a esquerda são os opositores do sistema, convém
definir o que é o sistema. Ora é o Capital o grande mal? mas e as
outras opressões? O capitalismo divide as pessoas entre as que detêm
o poder e as que são exploradas (e ainda as marginalizadas, que nem
sequer têm acesso ao sistema). Há outros sistemas de opressão
paralelos, subjacentes ou permeados ao capitalismo; as
coisas ficam mais fáceis para quem é humano, rico, do sexo
masculino, branco, heterossexual, cisgênero, letrado, sem
deficiências físicas ou mentais, e/ou
detentor de algum outro privilégio que não mencionei ou sequer sei
que existe.
Há
esquerdas que acreditam que o capitalismo é o mal maior e que se ele
deixar de existir todos os outros problemas somem; ou aqueles que
acreditam que os problemas devem ser tratados um de cada vez, a
começar pelo capitalismo. E há a esquerda que acredita que todas as
formas de opressão devem ser combatidas, uma a uma. E todos os
nuances possíveis de o que é considerado uma
pauta de luta.
Tentar
definir tudo isso mostra
que, sem dúvida, o rótulo de “esquerda
x direita”
é bastante vago. O que não significa de maneira alguma que devamos
deixar de usá-lo. Embora
não haja uma unidade dentre os participantes desse grande balaio da
esquerda, há ainda a clara distinção entre os que acreditam no
sistema e os que lutam para derrubá-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário