o sim e o não, o alfa e o ômega, o homem e a mulher, a langue e a parole, o yin e o yang.

03 setembro 2015

À esquerda ou à direita

Em qualquer debate político, acaba sempre vindo à tona a discussão de esquerda versus direita. Muito se fala sobre isso e muito se pergunta se ainda faz sentido em falar disso; e sobre isso há quem diga que quem pergunta se ainda existe esquerda só pode ser alguém de direita.

Historicamente, chamou-se de esquerda aqueles contrários ao sistema vigente; e de direita aqueles que o defendiam. O termo surgiu na França em relação aos deputados que apoiavam a monarquia ou queriam instaurar a república. E, com o passar dos anos, os termos passaram a indicar quem era partidário do sistema vigente versus quem era contra.

Hoje, para o bem e / ou para o mal, vivemos no sistema capitalista. O que, em 140 caracteres, significa que podemos trocar nossa força de trabalho por bens de consumo e bem-estar. Em tese, quem produz mais (em termos materiais e simbólicos) adquire poder para ter mais.

Mas esse sistema, claro – como, imagino, qualquer outro – tem problemas. E a maneira de encarar esses problemas é que define se estamos mais à esquerda ou mais à direita. Em miúdos, a esquerda diz que esse sistema é ruim e precisa ser substituído. A direita diz que os problemas são, na verdade, do ser humano e que não tem nada errado com o modelo. Aí tem a galera de centro, que admite um problema ou outro, mas diz que o sistema não é tão ruim assim – e vice-versa.

Na lógica do sistema capitalista, todos aqueles que obtiverem sucesso com seu trabalho poderão acumular bens – ou, em outras palavras, ficarão ricos. Só que para que alguém possa prosperar com o capitalismo alguém tem que ter que vender seu trabalho recebendo menos do que ele vale. Para que alguém possa prosperar no capitalismo, alguém, necessariamente, precisa sofrer, ser pobre – nem que seja num distante país lá do outro lado do mundo.

A direita encara isso como um mal necessário. O capitalismo permite que pessoas possam passar do grupo dos pobres para o grupo dos ricos – e o contrário também. O sistema beneficia aqueles que se esforçam para criar e aproveitar todas as oportunidades no seu caminho. Há casos de pessoas pobres que passaram a ser ricas; e há casos de pessoas ricas que ficaram pobres. Segundo a direita, é graças a essa desigualdade entre pobres e ricos que a humanidade evolui; é para ficar rico que as pessoas inventam e acordam cedo e movem as roldanas do mundo.

A esquerda, por sua vez, acredita que essa desigualdade entre as pessoas é inaceitável. A esquerda foca no fato de que é mais fácil prosperar dentro do capitalismo se você tem dinheiro. No mundo capitalista, dinheiro faz dinheiro; trabalho, não necessariamente.

E a galera do centro acha que uma desigualdadezinha é necessária (pra incentivar uma competição), mas que não precisa ninguém morrer de fome. O centro acredita que o capitalismo só precisa de umas reformas.

Isso resume (mal e porcamente) o que entendo do espectro direita x esquerda em relação ao capitalismo – mas nem de longe encerra a discussão. No mundo real, o buraco é sempre mais embaixo.


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