o sim e o não, o alfa e o ômega, o homem e a mulher, a langue e a parole, o yin e o yang.

01 fevereiro 2011

Entre os Muros

Acabei de assistir o filme “Entre os Muros da Escola”, um filme francês em que um professor de uma escola de subúrbio da França lida com os problemas de uma sala de aula de 7ª série. E pensando nos problemas que vejo na educação pública brasileira, mais precisamente na escola de anos iniciais do Ensino Fundamental em que trabalho, dá pra dizer que escolas de periferia não diferem tanto assim umas das outras.

Quando entrei na faculdade, eu tinha a intenção de ser professor, mas, com o passar dos anos, essa vontade foi diminuindo, justamente por não me sentir motivado e atraído em lidar com problemas como os tratados no filme. No entanto, quase que na mesma proporção que diminuiu minha vontade de dar aula para os adolescentes, aumentou meu interesse pelo primário.

Diferente dos adolescentes, que, por natureza, são questionadores e contestadores, as crianças, de 6 a 10 ou 11 anos, são mais obedientes e interessadas pelo estudo; a escola ainda lhes causa fascínio, eles têm vontade de aprender. Conforme envelhecem, por motivos especuláveis, mas não óbvios – se sócio-culturais ou por erro da Escola, que não consegue manter a motivação ou se são fatores biológicos que impedem os adolescentes de gostarem do ambiente escolar –, as aulas são cada vez menos interessantes para os alunos.

Acredito que a Escola tenha culpa nesse desinteresse dos alunos; se, nos primeiros anos, os alunos têm entusiasmo pelo aprender, cabe ao professor encontrar um meio de manter essa chama acesa e evitar que o tempo a apague. E isso significa fazer com que os alunos aprendam a aprender e saibam pra que eles vão à escola.

Sempre critiquei esse método, tão tradicionalmente usado, mas que, felizmente, tem sido aos poucos superado: na escola se ensina como faz, mas pouco se fala aos alunos do porquê. Quanto à produção textual, por exemplo, muito se ensina às crianças sobre gramática e ortografia e muito pouco sobre a função dos textos que produzem.

Outra coisa que vi no filme e que me chamou a atenção foi a postura profissional dos professores. Na escola em que trabalho, os professores (a generalização é exagerada e de propósito) se envolvem muito pessoalmente com os problemas da escola, e isso, além de desgastá-los – e, consequentemente, estressá-los –, faz com que os problemas sejam resolvidos emocionalmente e não racionalmente, como é de se esperar de profissionais.

Não posso dizer que vou poder ser a peça que faltava para corrigir a educação brasileira; é sempre, evidentemente, mais fácil apontar os erros quando se olha de fora; mas vê-los me fez querer estar lá para poder tentar fazer alguma coisa para, pelo menos, diminuí-los; estou disposto a fazer a minha parte para tentar mudar as coisas.

Sempre ouvimos que a educação no Brasil não tem conserto, que os problemas de nosso país tomaram proporções muito grandes. O filme, todavia, mostra que nossos problemas não são tão locais assim, e que, se o Brasil não tem solução, a França também não tem.

Um comentário:

Jéssica Duarte Clemente disse...

O que posso dizer? A "pseudo análise" do filme foi fabulosa, e sua postura diante dos problemas na área da educação no Brasil também me chamou muito a atenção, principalmente quando cita a necessidade de se manter PROFISSIONAL para resolver as questões pelo lado racional e não emocional.
Achei essa idéia brilhante.
Infelizmente, muitas pessoas em nosso país não vão convencer-se de que é possível vencer os obstáculos e melhorar a educação aqui por nenhum argumento do texto, senão o final "(...)se o Brasil não tem solução, a França também não tem.", por sempre considerarem como parâmetro os países europeus; "se a França está mal, e estamos iguais a França, então estamos bem. PONTO".