o sim e o não, o alfa e o ômega, o homem e a mulher, a langue e a parole, o yin e o yang.

24 janeiro 2011

Modus Operandi

Minha intenção com esse texto é fazer uma espécie de manual de instruções de como ler os meus textos; aquilo que ouso chamar de Literatura: o sub-realidade.blogspot. Como já estudei nas matérias de Literatura na faculdade, as tentativas dos poetas de explicar a própria obra acabam não servindo pra muita coisa. Mas, de qualquer maneira, minha intenção é fazer com que as pessoas (principalmente as que não leem Teoria da Literatura) entendam que é preciso (e sempre é possível) ir além do texto em si e tentar entender as metáforas e entrelinhas.

Seguindo a concepção de Literatura com a que trabalho nos meus textos, o que está escrito no texto necessariamente não é tudo que está escrito no texto. O leitor pode ler o conto e ver somente a sucessão de acontecimentos; é uma leitura válida e sempre possível, mas são superficiais demais; para que o texto comece a fazer sentido, o leitor precisa projetar significados no texto. E, como cada leitor tem experiências diferentes, cada texto terá tantas interpretações quanto for seu número de leitores. E, nesse sentido, essa concepção de literatura vai contra as correntes mais usuais por aí: para entender o sentido, o leitor não precisa conhecer o autor nem saber em que lugar e em que contexto o texto foi produzido. Se ele conhecer esses fatores extra-textuais e quiser inseri-los em sua interpretação, claro que poderá fazê-lo, mas essa interpretação não será melhor que qualquer outra.

Peguemos como exemplo um dos textos do sub-realidade, o “so did mine” (publicado, inclusive, no jornal Boca do Inferno do Centro Acadêmico de Letras da Universidade Federal do Paraná). Os fatos relatados no texto podem ser resumidos em “um homem encontra uma réplica sua numa cidade à noite e a mata e, depois, tem de carregar o cadáver por onde quer que vá”. Um leitor menos preocupado se contentaria em parar sua leitura aí. Mas, se seguirmos a ideia de projetar significados às metáforas, podemos ir além. As metáforas mais usadas pelos escritores, de modo geral, são metalinguagem e sentimentos; tentemos projetar essas duas no texto.

Primeiramente, podemos entender que cada personagem do texto significa um texto de um determinado autor. Assim, os dois não podem viver juntos; um precisa matar o outro para fazer sentido sozinho. Mas todo leitor compara textos de um mesmo autor, por isso um sempre vai acabar carregando o outro por um tempo: até que o leitor se desapegue do primeiro texto e consiga enxergar um sem o outro. Ou, se projetarmos que cada personagem significa um amor na vida de alguém – do leitor, presumivelmente –, fazendo uma comparação análoga à da metáfora da metalinguagem, “só um novo amor para curar um coração partido”.

Eu, particularmente, acho que as interpretações sentimentais, embora não menos válidas, são as mais pobres – mas é minha interpretação de leitor; já que não é possível, de acordo com essas mesmas premissas, projetar uma interpretação de autor, uma vez que, quando eu leio um texto escrito por mim, deixo de ser autor para ser leitor.

2 comentários:

Recalcado disse...

subestimando o leitor. coisa feia (:

willian disse...

não, não é isso. só uma mania minha de querer tentar esclarecer as coisas. só isso (: