o sim e o não, o alfa e o ômega, o homem e a mulher, a langue e a parole, o yin e o yang.

03 outubro 2016

Quem a democracia representativa representa?

No episódio de hoje, aprendemos que a população não está satisfeita com a democracia representativa. Em muitas cidades, geral decidiu não votar em ninguém. Só pra falar de capitais, em 8 delas o número de eleitores que decidiu não votar em nenhum deles foi maior do que o número de votos no candidato mais votado. No Rio de Janeiro, o número de nulos, brancos e abstenções dá quase o mesmo tanto que o número de votos nos TRÊS candidatos mais votados.
No episódio de hoje, aprendemos também que, mesmo que mais da metade dos eleitores votem nulo, a eleição NÃO É anulada e novas eleições NÃO SÃO CONVOCADAS em 45 dias. 


É fato que esse modelo de democracia representativa já não representa os interesses de boa parte da população. Mas é fato também que as greves e os movimentos de rua já não têm mais a mesma força que um dia tiveram; por um lado, pela falta de adesão, mas, mais importante, pela falta de credibilidade. O maior movimento de rua dos últimos anos, em junho de 2013, não levou a nenhuma mudança real na política brasileira; os movimentos de rua que tentaram parar o impeachment da Dilma não surtiram nenhum efeito. E os movimentos que derrubaram a Dilma só surtiram efeito porque era a grande mídia que movia as marionetes: só esperar os movimentos de rua em 2017 contra o Temer.

O que tem acontecido é que “uma parcela mais politizada da população” está desacreditada da nossa democracia e decidiu não votar em ninguém. O problema é que as regras de nossas eleições simplesmente ignoram essas pessoas. Assim, o voto das “pessoas menos politizadas”, no fim das contas, vale mais do que valeriam. Na ânsia de se posicionar contra o fluxo, essa galera acaba fortalecendo o fluxo. 

De maneira alguma me posiciono contra o voto nulo ou a abstenção; se o sistema não nos representa, é justo querer boicotá-lo. A minha crítica em relação à negação do sistema. Porque se opor ao sistema é o mesmo que dizer que não faz diferença ser governado por um partido que se diz progressista contra ter no governo um partido ultraconservador.


Comparemos a eleição com uma doença terminal. [a comparação é péssima, eu sei.] Você pode escolher entre fazer uma cirurgia que pode te matar no processo e que pode não curar totalmente a doença ou tentar um tratamento com medicamentos em um spá nas montanhas. Nenhum deles é garantido; nenhum deles garante a cura; a probabilidade de morrer é alta em todo caso. A escolha está em decidir qual deles é o menos doloroso. Ou dá pra simplesmente se entupir de analgésicos e não lutar contra a doença. Você que escolhe.

Um sistema ideal era um sistema que você não tivesse doença. O ideal é lutar pra que ninguém mais adoeça. Concordo com tudo isso. Mas agora que a doença está aí, que as opções são essas, o que nos cabe fazer?

Debato os métodos que tem se adotado para a revolução, mas acredito de verdade que a única forma de mudar alguma coisa é a gente implodir o sistema e mudar as regras do jogo. Mas enquanto isso não acontece, o que temos é essa democracia lixo que a gente tem. E a gente não pode dizer que o que os governantes fazem não nos diz respeito.

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